O GRÊMIO RECREATIVO CULTURAL E CARNAVALESCO ‘DEIXA FALAR’, foi fundado em 23 de Abril de 1992 na Rua Cesário Alvim, 391-A, Bairro da Cidade Velha em Belém do Pará. Suas cores são azul e branca, seu símbolo é o papagaio.
Participou pela 1ª vez do carnaval em 1993, no grupo “C” de escolas de samba, e já estreou ganhando. Em 1998 foi campeã do grupo B e subiu para o Grupo Especial das Escolas de Samba, onde está até hoje. Em 2007, numa reorganização do concurso oficial da Prefeitura de Belém onde desfilaram 14 agremiações para cair 7, ficou em 6° lugar, em 2008, entre 7 foi a 4ª com o enredo “Deixa chover, Deixa Falar, se tá na chuva é pra se molhar”. Em 16 anos conquistou o respeito e o carinho do público e das mais tradicionais escolas de samba de Belém.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Ervas da floresta - cheiros do Pará, enredo de 2009



























O Grêmio Recreativo Cultural e Carnavalesco DEIXA FALAR escolheu como enredo para o Carnaval 2009 a grande riqueza da floresta amazônica: o poder, a sabedoria, o mistério e a magia de suas folhas, ervas, sementes, raízes, flores e frutos. As espécies nativas ou as que elegeram a Amazônia como morada, mostrando seus usos em remédios, comidas, banhos, perfumes, cultos sagrados, mandingas, encantamentos e homenagens, passando pela indústria de cosméticos, reconhecida em todo o Brasil e no exterior, e chegando ao alerta para a necessidade de preservação desse grandioso ecossistema diante de constantes ameaças causadas pela ambição do homem. Ervas da floresta, cheiros do Pará são magia na Deixa Falar fala por si neste enredo.
 “Eu vim na força dos ventos de Iansã, a mando de Xangô. Sou o grande segredo dado por Olodumaré a Ossain, filho de Iemanjá e Oxalá. Minha essência é soberana e tenho tantos poderes que alguns ainda nem mesmo revelei. Posso perfumar, remoçar, alimentar e curar, mas posso também ferir a quem em mim tocar com ambição. Sou força inigualável em minha frágil aparência, sou micro partes de um gigantesco e abençoado todo.
Viajo para Belém do Pará, minha capital, em fardos, sementes, vasos, paneiros e vidros coloridos. No mercado de ferro do Ver-o-Peso sou vasta, farta e acessível a todos. Saio das mãos das cheirosas para aqueles que desejam seduzir paladares, realizar namoros, abrir caminhos atravancados, perfumar armários, defumar casas e searas. Vou aos cultos em forma de amacis e ariachés, Nas mãos de pajés, filhos de santos e benzedeiras emissárias de boas vibrações protejo e afasto mau-olhado, quebranto e malinezas. Em junho, sou homenagem a São João levada pelos vendeiros de porta em porta desde bem cedo gritam: olha o cheiro cheiroso pra tirar o catingoso! Em dezembro sou oferenda a Iemanjá, pra começar o ano novo com o pé direito. Na Mina são os tambores que me anunciam, nas hábeis mãos dos abatazeiros. Nas casas sou banho-de-cuia, gostoso de tomar no quintal, pra dar um volta de tardinha.
Saio da Amazônia pra conquistar o resto do Brasil e o mundo através da magia da química, que me transforma em incensos, infusões, loções, cosméticos, cremes de beleza e fórmulas de rejuvenescimento, carregadas de teor ecológico, através da indústria da beleza. Indústria que, pela sensibilidade e visão de Coco Channel e do perfumista Ernest Beaux, nos anos 20, com o óleo do pau rosa, madeira retirada do coração da Amazônia, perfumou rainhas como a da Inglaterra e a do cinema, Marilyn Monroe, me fazendo francesa para o mundo, elegante presença na moda, sedução em cada gota de  Channel n° 5.
Sou alvo de piratas, ladrões e ambiciosos que vêem em mim a oportunidade de enriquecer. Forasteiros que se apossam de minha sabedoria e de meus segredos e, em sua busca feroz, me queimam, me arrancam, me cortam, e tentam me destruir, mas, mal sabem eles que também sou fera e que muitos me defendem. Que bate forte em mim um coração sobrevivente, formado pela esperança, pela determinação e pelo empenho de antigos espíritos guerreiros que iluminam cunhãs e curumins que me refazem em mudas nas quais refloresço sob a invocação de meu Rei Ossain “Ewê assá”.
Eu sou folha, sou flor, sou fruto, sou erva, sou raiz. Sou o menor e o maior de todos os seres, sou a floresta fundamental, essencial, sou a vida. AXÉ!”

                                                                                       Cláudia Palheta

Originalmente publicado aqui

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